O preço político de usar comissionados como ‘máquina eleitoral’
Tecnologias para gravar áudio e vídeo transformaram em pública qualquer reunião política de caráter privado

Em nota, PV alega que reunião protagonizada por Adalberto Fulgêncio, Zeneddy Bezerra e Lucélio Cartaxo foi de cunho partidário. Foto: Reprodução/Instagram
O abecedário político diz que qualquer um que comece uma campanha eleitoral tendo que dar explicações, começa mal. Os mais experientes na arte de buscar votos dizem isso com muita frequência. E é inevitável que, pegando por este viés, o discurso do secretário de Saúde de João Pessoa, Adalberto Fulgêncio, direcionado a dirigentes da saúde pública da capital soou muito mal. Ele reuniu 450 servidores durante reunião política do Partido Verde e, no discurso, pediu para que aquele ‘grupo seleto de profissionais’, que chefiam 10 mil servidores da base, trabalhe para eleger Zennedy Bezerra deputado estadual e Lucélio Cartaxo governador.
O evento ocorreu nesta semana e o áudio não tardou a circular nas redes sociais. Ganhou força entre grupos de aplicativos de compartilhamento de mensagens. As interpretações sobre a legalidade são variadas. Em nota, o PV, partido do prefeito Luciano Cartaxo, ressaltou que a reunião foi política, fora do horário de trabalho e bancada pelo partido. Do outro lado, não falta quem aponte ilegalidades. O tema, certamente, será alvo de demanda judicial. Já há movimentações neste sentido. Haverá a discussão no foro próprio, a Justiça, mas também como arma de enfrentamento eleitoral.
O leitor pode perguntar se os outros grupos políticos não fazem a mesma coisa. A resposta vai ser um SIM em caixa alta. Todos os detentores de mandato historicamente usam do mesmo expediente. Sempre foi assim e todos assumem os riscos eleitorais por isso. Nas últimas campanhas, agentes do governo do Estado e das prefeituras recorreram à força de mobilização dos auxiliares empregados na gestão. O argumento é sempre o mesmo: vocês constroem esta gestão e, por isso, têm compromisso com ela. A mensagem de que os empregos de quem tem contrato precário depende disso fica implícita.
A prática largamente usada abre espaço para a discussão sobre o que não tem mais vez na política. Os agentes públicos precisam o quanto antes perceber que não existe mais evento privado. Se anos atrás haveria a necessidade de se arrolar várias testemunhas para atestar uma irregularidade, agora basta uma gravação. A Justiça Eleitoral tem muito constantemente aceitado as demandas baseadas em captação ambiental de áudio e vídeo. Então, como dizias as nossas avós, cautela e caldo de galinha não faz mal a ninguém.
Nota de Esclarecimento
Sobre a notícia divulgada neste portal, que trata do encontro partidário ocorrido na noite da última terça-feira (05), o Diretório Estadual do Partido Verde (PV) vem a público esclarecer:
– O evento foi de natureza partidária, realizado fora do expediente da Prefeitura Municipal de João Pessoa, sob coordenação do secretário de formação política do diretório Estadual do partido, Adalberto Fulgêncio.
– Como acontece em qualquer reunião para filiados ou simpatizantes partidários, segundo preveem as normas eleitorais, membros da sigla podem se posicionar de forma espontânea, defendendo argumentos e propostas das pré-candidaturas.
– O evento ocorreu em espaço fechado, devidamente contratado pelo Partido Verde, como também prevê a legislação.
– O PV preza pelo compromisso com a legislação e com a transparência, defendendo o bom debate e as boas práticas eleitorais.
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Lauro Pires Xavier Neto
Disse:
A população não aceita mais esse aparelhamento da máquina pública. Não há mais espaço para esse tipo de ação nefasta que indica que os cargos comissionados e a res publica são usados para interesses dos mandatários do poder sedentos por se manterem vinculados a essa máquina viciada. Atitudes como essa, corroboram com o sentimento de boa parte da população que não acredita mais nos espaços públicos isentos de atos de corrupção – lamentável! O que podemos fazer nesse momento? A quem podemos recorrer? O que queremos? Um novo sistema político e econômico, um sistema que as pessoas não fiquem reféns dessas práticas abomináveis!
Luis mota
Disse:
Como é que isso , é considerado legal?Quê dizer que um prefeito faz uma reunião com os funcionários,e diz,voltem em minha esposa e em meu filho.Pronto,tudo normal.Vão se fuderem com estas interpretações nojentas.
pru
Disse:
Mais criminosa ainda é a folha de CODIFICADOS apenas com CPF NO governo do estado. esta sim manipula eleições, tribunais, tce, assembléia legislativa, secretarias, imprensa… é muita familia dentro desta folha do estado.